Hoje, 17 de abril de 2023, recebi um produto que comprei em um site. Ao abrir a encomenda, que era um tênis para o meu filho, o peguei na mão e, nesse momento, senti o cheiro do tênis novo, que tomou minha mente e me fez viajar ao passado como um piscar de olhos. Vou explicar:
Nossa família nunca passou fome ou não teve roupas para usar, mas sempre tivemos o mínimo do mínimo. Fomos educados para se contentar com o que tínhamos, pois muitos não tinham nem isso. Assim, éramos felizes com a manutenção das necessidades básicas, tenho um carinho imenso por essas lembranças.
Nessa época também era um momento em que dividíamos muito o que nos era dado. Então, nossas roupas eram repassadas de irmão para irmão e nossos calçados da mesma forma. Sendo assim, não podíamos escolher um calçado feminino ou masculino, pois o irmão teria que usar.
Eu sempre sonhava com um tênis rosa, o mais colorido possível. No entanto, minha mãe, a maravilhosa dona Maria, nos alertava da necessidade do irmão usar depois de não me servir mais e porque sujava muito na terra vermelha, que é a composição do solo das missões (pensa no encardume).
Quando completei 14 anos, consegui um trabalho provisório de ajudar em uns cadastros municipais em comunidades no interior. Assim, recebi meu primeiro salário, um pequeno valor de incentivo. Trabalhamos todos os dias no contraturno para ajudar mesmo, foi uma experiência bacana.
Passei dias pensando o que fazer com aquele valor e adivinhem: comprei meu tênis rosa. Não consigo expressar a felicidade que senti em palavras. Não saí usando, naquela época era usado tênis novo, roupa nova somente na missa ou em algum outro evento. Eu cheirava o tênis todos os dias, colocava no pé e devolvia para caixa. Só o cheiro do meu tênis rosa já me bastava para a minha felicidade. Saber que ele estava ali dentro daquela caixa e era meu. Nossa, até agora meu coração palpita com a lembrança.
O cheiro que senti hoje é exatamente o cheiro que sentia. Como é bom ter lembranças, como é bom conquistar coisas e como é bom saber que isso fez diferença na minha vida.
Por: Ana Berwanger